Coração disparado, sentimento de que algo ruim está prestes a acontecer, náuseas e tremores são alguns dos sintomas que podem estar relacionados à ansiedade. O estado da arte aqui está em estabelecer a relação desses sintomas com o diagnóstico do transtorno de ansiedade, visto que muitas doenças também podem os manifestar.
Dizíamos, em séculos passados, que paciente com quadros depressivos/ansiosos estavam com espírito adoecido. Precisavam respirar novos ares, mudar de ambiente, renovar o espírito. Hoje, entendendo um pouco mais de neurotransmissores, acabamos trocando a palavra espírito por mente. Seja espírito ou mente, entender como o corpo reage a esse mal é fundamental.
Qual os sintomas da ansiedade?
São variados. Constante tensão, problemas de concentração, medo, descontrole sobre os pensamentos ,problemas para dormir e irritabilidade são os mais frequentes. Alterações no tônus do sistema nervoso simpático talvez seja uma das explicações fisiopatológicas para esses sintomas.
Dizemos que os sintomas de ansiedade podem ainda simular muitas doenças. Chamamos isso de somatização, quando doenças psiquiátricas/psicológicas se manifestam com sintomas físicos/orgânicos. É justamente nesse cenário que muitos pacientes procuram o cardiologista ou gastroenterologista, pois só percebem de um modo objetivo a doença quando a mesma chega nesta fase.
Cada sistema orgânico pode manifestar sintomas relacionados à ansiedade. Entrando nos sintomas cardiovasculares, a dor no peito e as palpitações (batedeira no peito) são os mais frequentes. Se pensarmos no sistema digestório, o mais comum é a dispepsia/queimação epigástrica.
É como se o organismo internalizasse as angústias do espírito ou da mente e as manifestasse de alguma forma. Como a mente ou espírito é individual, cada organismo reage de modo singular. A explicação fisiopatológica, orgânica, não é tão clara. Fazendo dos transtornos de ansiedade um diagnóstico de exclusão na prática médica.
Como fazer então um diagnóstico de transtorno de ansiedade?
O primeiro passo é aventar a hipótese de transtorno de ansiedade baseada nos sintomas do paciente. No entanto, se observamos bem, hoje somos ansiosos por natureza ou talvez a natureza tenha selecionado os ansiosos. Vivemos na frenética modernidade das cidades grandes, com muita informação e pouca segurança. Nesse cenário, seria natural imaginarmos que sintomas relacionados à ansiedade aparecem em todos nós.
Então, qual seria o limiar para fazermos o diagnóstico da doença ou transtorno psiquiátrico da ansiedade?
Essa não é uma questão fácil, os psiquiatras e psicólogos vão ter que entrar em cena. Mas uma coisa que costumo dizer aos meus pacientes é: quando esses sintomas de ansiedade estiverem atrapalhando a sua vida diária e cotidiana, como o trabalho ou relacionamento conjugal, talvez seja a hora de procurar um especialista e iniciar um tratamento.
E se é diagnóstico de exclusão, como fazê-lo?
Justamente excluindo os outros diagnósticos prováveis. Como exemplo, se o paciente apresenta-se com dor torácica, temos que excluir o infarto agudo do miocárdio, as doenças pleuropulmonares ou gastrointestinais que também causam dor torácica. Se o sintoma for palpitação, temos que avaliar se não se trata de uma arritmia cardíaca propriamente dita.
Após o diagnóstico, o que fazer?
O tratamento é multidisciplinar. Psicoterapia, avaliação psiquiátrica, prática regular de atividade física e algumas mudanças comportamentais são de suma importância para o controle da ansiedade. Por vezes, uso de medicação específica é necessário.
Meu risco de doença cardiovascular aumenta por ser ansioso?
Postula-se que a ansiedade crônica condiciona um estado pró-inflamatório, com aumento da liberação de citocinas no organismo. O sistema nervoso simpático também está com tônus alterado, levando a um aumento no risco de eventos cardiovasculares.
Portanto, o controle e tratamento da ansiedade pode até mesmo reduzir o risco de infarto agudo do miocárdio. Ou seja, acalmando a sua mente e seu espírito, o seu coração agradece.